TARDE
Tarde leve tarde
Pesado é seu tédio
O sol sobre os ombros daqueles que passam
operando o dia, engrenando as feridas
Nada significando para aqueles que vêem
A vida passar
Aguardando sóis ilusórios se porem
Pois a juventude é a aurora distante
E o vazio é repleto de mim mesmo
Quando um dia o laço obtuso
e robusto
Enforcar-me a razão
E as garras do mundo penetrarem minha alma
As tardes deixarão de ser tardes
Pois o então trabalho dos homens
Há de me separar de mim
Uma parte de saudades
do tempo da contemplação
Outra do eu em solavancos desmembrado
como espectador da estética dos fatos,
Reluto em aceitar esta úmida brisa
Que reconforta sem revigorar as forças
É devaneio, é logro, é quimera
Este suave vento jovial
Dá-me certezas inexistentes
Pois sei que só contemplo
Sei que paro
Sei que alucino
Sem parar a roda da História
E se posso ficar inerte
Se falo ou se calo
Ou vejo as fantasias defronte minha face
Não é porque posso
É porque me foi permitido querer
As árvores, a rua, o sol, a relva
Só resta a gente
E toda a gente do mundo
Porque não sou mais manhã
Desvaneceu meu dia
Neste momento também suo
Sofro, sangro, salivo
Não pela recusa da tarde
Mas pelo NÃO
Recuso sem recear
A aceitar a materialidade
da máquina do mundo.
4 comentários:
Ficou como vc Eduardo! charmoso! porem achei um pouco triste, seria porque hoje é meu aniversario, rs, ou porque eu pego no seu pé! bom,te espero em casa, abraços do seu irmão!
Quase todas as tardes eu penso nessa coisa toda. Por que será?
Direto da redação,
Crespo.
Já ouvi esse poema, na sua voz, em estados alterados hehehe... beleza, Du, trabalho de quem leu e sentiu muito Fernando Pessoa na vida.
Gosto do poema.
Gosto desse tal de Du.
Não gosto da máquina do mundo.
Estava no chão (sem metáforas) quando você começou "tarde leve tarde". Acordei de um devaneio para ouvi-lo.
Quero mais!
abraço
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