sexta-feira, 4 de maio de 2007

TARDE

Tarde leve tarde
Pesado é seu tédio
O sol sobre os ombros daqueles que passam
operando o dia, engrenando as feridas
Nada significando para aqueles que vêem
A vida passar

Agora espero, agora calo, agora fujo
Aguardando sóis ilusórios se porem
Pois a juventude é a aurora distante
E o vazio é repleto de mim mesmo

Quando um dia o laço obtuso
e robusto
Enforcar-me a razão
E as garras do mundo penetrarem minha alma
As tardes deixarão de ser tardes

Serão a espera que hoje não tenho
Pois o então trabalho dos homens
Há de me separar de mim
Uma parte de saudades
do tempo da contemplação
Outra do eu em solavancos desmembrado

Hoje, impregnado de sentimentos esparsos
como espectador da estética dos fatos,
Reluto em aceitar esta úmida brisa
Que reconforta sem revigorar as forças
É devaneio, é logro, é quimera

Este suave vento jovial
Dá-me certezas inexistentes
Pois sei que só contemplo
Sei que paro
Sei que alucino
Sem parar a roda da História

E se posso ficar inerte
Se falo ou se calo
Ou vejo as fantasias defronte minha face
Não é porque posso
É porque me foi permitido querer

Desmaterializa-se a tarde
As árvores, a rua, o sol, a relva
Só resta a gente
E toda a gente do mundo
Porque não sou mais manhã
Desvaneceu meu dia

Neste momento também suo
Sofro, sangro, salivo
Não pela recusa da tarde
Mas pelo NÃO
Recuso sem recear
A aceitar a materialidade
da máquina do mundo.

4 comentários:

Chero disse...

Ficou como vc Eduardo! charmoso! porem achei um pouco triste, seria porque hoje é meu aniversario, rs, ou porque eu pego no seu pé! bom,te espero em casa, abraços do seu irmão!

Thiago Crespo disse...

Quase todas as tardes eu penso nessa coisa toda. Por que será?

Direto da redação,
Crespo.

Isabela disse...

Já ouvi esse poema, na sua voz, em estados alterados hehehe... beleza, Du, trabalho de quem leu e sentiu muito Fernando Pessoa na vida.

Lúcio Ducel de Diamantes disse...

Gosto do poema.
Gosto desse tal de Du.
Não gosto da máquina do mundo.
Estava no chão (sem metáforas) quando você começou "tarde leve tarde". Acordei de um devaneio para ouvi-lo.
Quero mais!

abraço