quinta-feira, 3 de maio de 2007

SHOWS & shows

Pet Shop Boys, Roger Waters, Aerosmith, Jethro Tull (acho que não esqueci de nada, né?). Esses foram os maiores shows que passaram pelo Brasil no começo de 2007, mais um ano que promete grandes atrações internacionais, com uma coisa em comum: a “geração do que sobrou” agradece. Explico: são artistas que tiveram seus auges há pelo menos duas décadas, e hoje sobrevivem de uma época que se foi. Os nostálgicos – eu incluída – se deliciam.

O show de Roger Waters, com quase 3 horas de duração, foi fabuloso. Uma combinação de imagem, som, performance, beleza, produção, conforto, repertório, clima, porco... Porco? Um balão gigante em forma de porco rosa com escritos subversivos rondou o estádio e depois foi solto no espaço, subindo até desaparecer no céu raramente claro de São Paulo – dava pra ver umas dez estrelas! Um astronauta solto sobre a platéia, um prisma de laser, a lua que se aproximava e se afastava parecendo sair do telão, sangue acelerando e correndo nas veias no ritmo da música, que dançava pelo estádio. Melhor tentar trazer as imagens para descrever o indescritível. Todos os detalhes minimamente trabalhados; cada música era um espetáculo à parte.

Ah, teve o Coldplay também este ano. Opa, eu estava falando de bandas antigas. Incrível como uma banda tão nova pode parecer tão surrada. É rock? Não, não é. Foi um show de gente pop, colunáveis, mulheres de maquiagem carregada e salto alto e homens de camisa e sapato querendo ver (isso mesmo, ver) música quadradinha que ora ou outra explodia em ânimo. Ah, tinha fãs também, mas só aqueles que conseguiram juntar o valor salgado do ingresso. Iluminação perfeita, lasers coloridos, banda bonitinha, músicas criadas em cima de um estilo de sucesso repetitivo. Fórmula.

Pet Shop Boys, que deveria ter sido um show altamente dançante e explosivo, se fez lounge, com performancezinhas meia-boca e palco sem-graça. Aonde foi parar a discoteca? O show, que durou uma hora e vinte minutos (!) começou morno (bocejos na platéia; espaços abertos na boca do palco) e explodiu – de leve – no final. “It’s a Sin” empolgou o público sedento pela dupla que veio ao Brasil apenas pela terceira vez em mais de vinte anos de carreira, mesmo sendo executada de maneira programática. “Go West” idem. “Always on my Mind” ibidem. A apatia – e o cansaço das próprias músicas - da dupla inglesa ficou marcada nesse show (caro, para variar), e apenas foi diluída no atendimento aos gritos do público que pedia um segundo bis... “Being Boring”. Irônico não?

***

Não existe uma estrutura para shows no Brasil; a negociação entre empresários, casas de espetáculos, publicidade e artistas é perversa por aqui. Se nos Estados Unidos, por exemplo, existe uma agenda confiável para o ano inteiro com grandes shows e inúmeras casas de shows, cada uma perfeita e equipada para cada tipo de performance e produção (palco largo e mesinhas para aquele jazz ou psicodélico para se ouvir sentado bebendo um whisky ou vinho; ou pista inclinada com espaço e visibilidade geral do palco para o rock ou o pop dançante de ficar de pé com cerveja e cigarro na mão etc) – e por preço acessível, viva a concorrência! – aqui o público espera carente pelos ídolos, o que abre portas para o showbusiness negligenciar as produções. O Credicard Hall, que tem trazido a maior quantidade dessas atrações internacionais, peca pelo som – cadê a acústica? –, que fica baixo para quem está a mais de dez metros do palco, peca pela produção genérica (onde estão os telões com câmeras variadas, a iluminação condizente com o som, o colorido, o clima?) e deixa no ar um cheiro de desleixo. Parecem pensar – e agora não estou falando apenas do Credicard Hall – que, como já estão trazendo alguém grande e que já não aparece em terras tupiniquins há anos, não precisam se preocupar com o capricho, pois o público aparecerá e pagará o qualquer preço da mesma forma. E estão certos.

E depois de tanta burocracia por ingressos caros, pontos de venda frescurentos, taxas de conveniência, partos por uma meia-entrada, produções impróprias e descuidadas e shows-cumprição-de-tabela (muitas vezes também por parte dos músicos, é verdade), dá até preguiça de se empolgar com o que vem por aí.

Gosto muito de Aerosmith (dos primeiros discos), mas não fui ao show, por tudo o que mencionei acima. Imaginei Steven Tyler e Joe Perry, com seus últimos trabalhos medíocres, querendo emplacar músicas novas, tendo que tocar as baba-ovo “I don’t wanna miss a thing” e “Jaded” para as menininhas iniciadas na fase pop dos roqueiros, e agradando com as mesmas músicas que tocam há décadas e que já devem sair automaticamente de suas mãos e bocas. Meus amigos que foram dizem que perdi um grande show, mas, bem, eles também se enquadram na categoria “público carente da presença de seus ídolos”.

O Jethro Tull, que eu já havia assistido sentada curtindo o progressivo com uma caipirinha de limão, em 2000, no Via Funchal (aliás, uma casa que parece conhecer o que traz e se preocupar em criar um ambiente condizente com a atração), voltou agora em abril com uma violinista e um repertório com muitas omissões importantes (onde estava “My Sunday Feeling”?), que mais parecia feito para aproveitar a presença da menina virtuosa. Foi no Credicard Hall, em pé, sem qualquer inclinação na pista que permitisse aos mais afastados verem o palco por cima das cabeças. Ouvia-se a conversa dos grupos e a cantoria dos desafinados em volta durante a apresentação. “Aqualung” estava tão mudada que só era reconhecível nas três rápidas repetições do riff, em 7 minutos de improviso. Ian Anderson é um showman, culto, interativo, divertido e alerta. A iluminação parecia a de uma sala de palestras, não fossem as duas ou três vezes que uma luz colorida psicodélica projetou formas repetitivas no fundo do palco. Valeu? Valeu, teve quatro ou cinco momentos marcantes e foi talvez a última oportunidade de vê-los.

***

Existem várias maneiras de se julgar um show e, voltando ao Roger Waters, a crítica foi mais ou menos veemente em afirmar que ele foi oportunista. Juntou os hits do Pink Floyd, retomou um show que a própria banda já havia retomado há alguns anos, jogou duas de suas músicas solo no caldeirão, cantou mal, contratou músicos que providenciaram um “genérico eficiente”, não acrescentou nada à Música com “eme” maiúsculo. Ok, é prerrogativa do crítico musical julgar através de suas próprias idiossincrasias, experiências e preconceitos. Porém, se o show de Waters no Morumbi não trouxe nada à Música, trouxe muito aos fãs, principalmente àqueles que não tiveram a oportunidade de ver o Floyd em 70, e ele fez isso com maestria. Os músicos foram precisos e minuciosos; e Waters, com sua voz suave, bonita, mas limitada, não foi arrogante e dividiu os vocais com outros cantores para não assassinar Gilmour ou os ouvidos da platéia em certos momentos. O cuidado com tudo o que se via, ouvia e sentia era impressionante. Tudo se resume a isso: teve feeling. O show não foi mais um dos vários que têm aterrisado no Brasil para oferecer espetáculos robotizados para uma platéia que se contenta com pouco, com a simples presença de um alguém. Waters ofereceu um verdadeiro espetáculo para os sentidos e respeitou seu público, que saiu com a sensação de que o dinheiro, o tempo e a energia empregados para estar lá foi pouco perto do retorno que teve. Afinal, não é esse o intuito de um show?

10 comentários:

Flávia disse...

sabia q vc q tinha escrito isso
ashudhusad

Lúcio Ducel de Diamantes disse...

All in all you're just
Another brick in the wall…

Ah, que show! E tem gente falando mal por aí...
Lembro quando fui ao show do Doors no Credicard Hall em 2004. Entrada triunfal, repertório perfeito, ótimos instrumentais, e a minha exaltação: “Meu Deus, eles existem!”. Depois ouvi gente, que provavelmente nem foi ao show, falando mal. Uma pena...
A programação de shows internacionais este ano está interessante, mas é bom também lembrar os inúmeros boatos, negociações que nunca chegam ao fim, artistas que mudam de idéia e desmancham o contrato. E não é a toa. Como mencionado no texto, falta estrutura para abrigar determinados artistas. Vale lembrar que o show do Waters foi maravilhoso, mas que no Rio houve uma falha técnica deixando o palco em silêncio por alguns minutos. Coisas de Brasil?

We don't need no education...

Chero disse...

Falou muito pouco sobre o ColdPlay, eles se entregaram ao publico, isso era notavel,mas a Isa é phoda!!! rsrs !!!

Apareça querida !!! Bjos

Chero disse...

Ahhh ja ia esquecendo...
Isa vc me surpreendeu, vc escreve mto bem, estou pasmo, porem vindo de vc, não é novidade! Bjus

Unknown disse...

Mentira!!! eu sou sua amiga e fui no show do aero e disse q vc perdeu um puta show... ruim!!! hehehe sim foi uma porcariazinha... mas, 1000 vezes aerosmith decrépito que chiclete com banana ou ivete sangalo né.

Isabela disse...

exato, my friend. Essa é a idéia da "geração do que sobrou". love on ya! haha

Thiago Crespo disse...

No dia 25 de janeiro, eu vi um SHOW. Quando os Mutantes voltaram para um improvável segundo bis, depois de as luzes acesas e muita gente já ter deixado o gramado do Parque do Ipiranga, apenas para repetirem a "Balada do Louco" que saíra errada da primeira vez, e ERRAREM DE NOVO, todas as minhas fibras me disseram que o rock ainda existia. (Aliás, aqui vai o meu - único - puxão de orelha: não vale colocar os Mutantes no rol desses puta shows? O Arnaldo Baptista é menor que o Chris Martin? NÓS TIVEMOS MUTANTES NO BRASIL, ORA!)

Quanto à programação em terra verde-amarela, infelizmente, você acertou na mosca. Vale lembrar do megashow no U2 numa segunda-feira e do Oasis numa quarta. Vale repetir sobre o ridículo pelo qual passamos para pegar o ingresso (com muita sorte, na maioria das vezes). Vale lembrar do palco cheio de penas (!) que armaram pros Stones fazerem "o maior show da história". Vale repetir sobre as péssimas condições do som em quase todos os lugares. E lembrar que prometeram o Bob Dylan. E, ah, por aí vai...

Criticar o Waters? Coisa de velho que, como já conversamos, escreve para provocar duas reações distintas: elogios rasgados dos sem-personalidade que ainda não vêem criticar o incrível como algo surrado e fúria de fãs/moleques que não admitem ler esse tipo de coisa (como nós, talvez). E aí ele, o crítico velho, gargalha "Consegui". Um dia a gente chega lá, fica tranquila.

Hm... Pet Shop e Jethro eu prefiro não arriscar nada. Não fui, não iria nunca e tenho raiva de quem foi. Brincadeira (só a última parte).

O Coldplay, além de figurar no melhor trecho do texto, é algo curioso em si mesmo. A banda é boa, mas fica um lixo com esse título de maior banda da atualidade (embora eu tenha medo que isso não esteja errado). Quanto ao show, recorro à reflexão da Bizz na época: será que um país de massa e sedento por mega-espetáculos está interessado em assistir a um show intimista no melhor estilo europeu? Não deu outra, pÔ. Espaço certo para o salto alto desfilar.

E aí trouxeram o Aerosmith...
Ah! Eu sou mesmo um carente à espera dos ídolos, mas nesse aí pelo menos tinha docinho pra todo mundo; a boca do Steven Tyler em close no telão para as menininhas pós-Just Push Play e o Joe Perry solando cinematograficamente com os cabelos assustados pelo ventilador. Jaded e Walk This Way.

No final das contas, o intuito de um show é mesmo fazer jus ao apelo que o acompanha desde o início dos boatos. Pena que no Brasil esse tipo de coisa seja tratado de forma tão estúpida quanto o Slash tocando naquele Velvet Revolver.

Unknown disse...

Putz, Zabê - se foi mesmo essa Isabela que eu to pensando que escreveu (vc agora tá com muitos sobrenomes antes camuflados!), tava pensando muito nesse lance de shows no Brasil será uma zuada... e também de a música no Brasil seguir o mesmo rumo. Cara, alguém precisa fazer alguma coisa!

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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