sexta-feira, 13 de julho de 2007

NOTA DE DESPEDIDA

Leitores fiéis, infiéis e não-leitores,


Desrespeito, rivalidade e agressões de todos os tipos, físicas ou verbais, certamente não permeiam qualquer amizade, mínima que seja ela. Quando esses e outros elementos acontecem em seqüência que indica o pior, é hora de mudar alguma coisa. Ou mudar tudo. Quando um blog mixo e semi-abandonado põe em xeque a relação intensa e aparentemente duradoura de pessoas que se conheceram na faculdade e prometeram amor incondicional, é hora de abandoná-lo sem pestanejar. Sozinhos no água, sem amizade e sem ajuda, cada um que se salve no maremoto. Quando cada um de nós deseja o pior para os ex-colegas, é hora de... acabar com todos eles o quanto antes.

Mentira. Ao contrário do que a imprensa em geral insiste em noticiar, seguimos a vida com muita paz, amor e flores. Como os Beatles em 67. Mas, quase como os Beatles de uns três anos depois, seguiremos vôos ainda mais dispersos. Uns trabalhando demais e bebendo de menos, e outros, acertadamente, fazendo o contrário. É fato que, quando as pessoas se tornam distantes, não se podem mais dizer ‘a gente se vê por aqui ou se vê por aí’, mas apenas lamentar e dizer que um dia, ao menos, foi bom.

O recesso por tempo indeterminado servirá para que cada um de nós reflita sobre as próprias inspirações. Para que busquemos, em conjunto mais uníssono, algo que realmente lhes prenda a nós com o respeito que devemos a todos.

Mentira de novo. O blog acabou, senhores. Principalmente para acabarmos com essa encheção de lingüiça fria. Não somos os Beatles e nem os Los Hermanos.

Beijos a todos,
Literalmente Siderados.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Quando os dois ponteiros do relógio se encontrarem
Quando eu puder esquecer
Quando estiver tudo encaixotado
Quando tudo isso acabar

Quando chover fininho, uma chuva de verão
Quando a inspiração voltar
Quando chegar a próxima estação
Quando tudo, tudo isso acabar

Quero saber o que fazer
Quero pegar no sono
Quero partir de vez
Quero virar tantas páginas

Quero sair por aí
Quero aproveitar pra escrever
Quero ir pro mar, pegar uma cor
Quero virar tantas, tantas páginas

terça-feira, 3 de julho de 2007

ALGO MAIS DO QUE UMA SOMA DE ROTINAS

Eu nunca havia lido nada de Llosa - um daqueles autores eternamente na lista dos próximos, mas sempre outro livro entrava na frente com um gancho momentâneo. Quando li sobre o novo lançamento de Mario Vargas Llosa, “Travessuras da menina má”, este foi o gancho do momento. O resumo do enredo (quentinho do press-release) bailando em todos os jornais me chamou atenção: a história de encontros e desencontros de um homem e uma mulher, por várias fases de suas vidas e lugares do mundo.

Não, de fato a história não é o mais importante, e sim como o autor a desenvolve, o que conta, o que deixa implícito, as palavras exatas que usa e o que desperta em nós. E nisso as travessuras da menina má são exímias, com personagens atraentes, linguagem cuidadosa, descrições concisas e límpidas.

É uma vida inteira contada em 302 páginas que, diferentemente de livros mais curtos e rápidos de ler, pausa para descansar e refletir. Ficar na expectativa, assim como o protagonista Ricardo Somocurcio ficava a cada sumiço da menina má. Ela, Lily, a chilenita, no Peru; Arlette, em Cuba; Miss Robert Arnoux, em Paris; Mrs. Richardson, na swinging London; Kuriko, em Tóquio; e muitas outras - todas essas identidades falsas que a menina má assumiu ao encontrar um novo homem-rico, um novo país, uma nova possibilidade de riqueza e tudo o que o dinheiro pode comprar, sua única segurança no mundo.

Ricadito, ao contrário, o bom menino, tinha como único sonho morar em Paris. Foi para lá, nos seus vinte anos, como tradutor da Unesco, sem esperanças de voltar a ver a graciosa chilenita cheia de mistério que conhecera num certo verão, no bairro de Miraflores, em Lima, terra da infância. Enquanto ele conta sua vida de viagens solitárias e poucos amigos, sempre entremeada de fatos históricos e políticos (da experiência de vida de Llosa), a menina má vai e volta, como se cada vez fosse a última, como se cada palavra significasse o seu contrário.

O protagonista expatriou-se da terra natal para ser um forasteiro “que jamais se integraria de fato à França de seus amores” e sua profissão, a de intérprete, é o ofício de falar pelos outros, uma “profissão de fantasmas”, como descrita pelo colega trujimán Salomón Toledano – que, aliás, faz parte de um leque interessante de personagens secundários, como o artista hippie Juan Barreto, o menino mudo Ylal, o construtor de quebra-mares Arquimedes.

Enquanto o bom menino, com sua única e rala identidade, acreditava na simplicidade e no cotidiano, a menina má, com suas múltiplas identidades, tentava se livrar do passado pobre através da aventura inconseqüente. Mesmo caindo em certos velhos ditados e conservadorismos, como “quem entra no fogo é para se queimar” - será mesmo? será que quem entra no fogo não conta sempre com íntima certeza e real possibilidade de sair ileso? -, Llosa não deixa a “menina má” e o “bom menino” se transformarem nas entidades do Bem e do Mal. Eles transitam entre esses dois extremos, numa narrativa essencialmente sem julgamentos, heróis ou vilões.