domingo, 27 de maio de 2007

Esse tal de ROQUENROU

Rock é música ou atitude? Os ponderados diriam que é uma mistura dos dois. Os rebeldes, com ou sem causa - há várias causas, faltam rebeliões -, diriam ser atitude. Os apaixonados acreditam que é música.

É que hoje a velocidade é outra, como disse o jornalista-cultural-que-está-em-todos-os-lugares Lúcio Ribeiro: “A velocidade da informação está beirando o absurdo. Quem fica parado dois segundos é poste. Sabe o disco do LCD Soundsystem que ainda nem saiu? Está velho. Lança outro, James”. Pois é, tanto para se desenhar uma trajetória quanto para descobrir – ou criar – novas bandas de sucesso, a velocidade atual é galopante.

Quando o vovô rock nasceu, há quase sessenta anos, conseguir um disco era uma odisséia para os ouvintes e saber o que faria sucesso era pisar em ovos para as gravadoras. Hoje, a questão não é saber o que faz sucesso, trata-se muitas vezes de criar o sucesso, direcionar o gosto do público e colocar a etiqueta poprock – junção que já dá uma boa medida do que o rock se tornou, não? Pop é o contrário de atitude, o contrário de revolução, o contrário de perigoso. É pop. Ou alguém acredita na rebeldia e nos cabelos cuidadosamente desarrumados do RBD? Na atitude de Avril Lavigne, a skatista com carinha de má mais bem maquiada e chapinhada da história?

Tá certo, exemplos fáceis. Mas as bandas-promessa se multiplicam como vírus de gripe! É Franz Ferdinand, Moptop, Klaxons, CSS, Bloc Party, Arcade Fire, Kaiser Chiefs, Clap Your Hands Say Yeah, Arctic Monkeys, Wolfmother, Dan Le Sac, Keane, Kassin (queeem?). Fale a verdade, pra acompanhar tudo isso não dá pra ouvir mais de 30 segundos de cada música nova, como naquele aparelhozinho que só toca um sample de cada música nas Fnacs. Ouvir uma música duas vezes então, nem pensar. Não dá tempo. Está velha. Não é que não haja coisa boa, claro que há, ou deve haver. Mas se perde no mar de informação, propaganda, tietagem, martelação, alarde, exposição, picaretagem, photoshop (de imagem e de som), estratégia, tempo de vida.

O rock já foi perigoso, lá quando as mães de adolescentes se apavoravam com os rebolados de Elvis (cujos discos gastavam e riscavam de tanto ouvidos), com as calças rasgadas e cabelos sujos dos Ramones, com a androgenia brilhosa de David Bowie, com o efeito que os Beatles tinham sobre suas filhas, com a revolução dos sentidos que os Doors proporcionaram. Não é saudosismo, é questão de timing. O movimento rock passou, o perigo se foi, sobrou a boa música. O jazz também já foi perigoso, quando os negros começavam a tomar espaço numa sociedade segregada, nas figuras de Glenn Miller, Billie Holiday, Louis Armstrong e Ella Fitzgerald – só quatro exemplos, pra tentar resumir o irresumível. Não é mais, é música para se ouvir com whisky e público seleto.

Perigoso é o que dá voz ao que era ignorado. Hoje, é o funk, é o rap, é música (?) que vem de quem tem com o que se revoltar: desigualdade social, na voz das minorias. Perigoso é filho de empresário ouvir que, para seu pai enriquecer, muita gente teve que empobrecer. Perigoso é filha de rico subir o morro porque a vida lá parece mais emocionante que ser mimada. Perigoso, no sentido de abalar as bases do cotidiano, é ver que aqueles que estão à margem da sociedade (como os negros estiveram antes do jazz, e os jovens antes do rock) estão ganhando espaço, pelo menos na discussão. E que o rock é o “grito da borboleta”, como cantou Jim Morrison em “When the Music's Over”.

7 comentários:

Eduardo disse...

É interessante ver que, como o rock, hoje o que seria música de protesto, como os mencionados rap e funk, possuem seus "mainstreams" totalmente embricados com a lógica de mercado. O rap, que denunciava a opressão contra os negros e pobres, surge na mtv travestido de casacos de pele, champagne Crystal e supercarros, além de deslocar o eixo opressor/oprimido, o racismo deixou de ser fruto de debate, a temática agora é a exaltação da mulher-objeto, da mulher-mercadoria, do consumo extravagante e sem sentido, da ostentação.
É como a história do próprio James Brown, pobre, negro, marginal, oprimido, discriminado, que transformou-se em filho dedicado do Tio Sam aos primeiros lampejos do sucesso mercantil.

Thiago Crespo disse...

Li o texto, fui pra sala de tv e assisti à seguinte equação:

MTV + Coca-Cola = Cachorro Grande + Nando Reis.

Depois da penúltima música, Stand By Me, digo com propriedade: o rock é inofensivo.

Pri disse...

Concordo! Há anos o rock não é mais perigoso. Inclusive acredito que a tendência agora é não termos mais as mega bandas de outrora, como vc citou alguns: Ramones, Beatles, Rolling Stones. Não dá tempo! Uma banda é formada, tem um hit de sucesso, a gente pensa: "Hmmm curti, sou fã!", e a banda já se desintegrou, já formou 3 novas bandas com seus integrantes, buscando cada uma uma som diferente. Ultimamente, Strokes é a única banda na minha opinião que é o que é pop rock mesmo (pq se for rock, vai ter tantos adolescentes que deixam de comprar!), com um estilo de som peculiar que não mudou conforme a gravadora.
Mas sei lá, sou leiga falando-se de rock.

Pri disse...

Faltou umas vírgulas no meu texto, mas you get the point!

Lúcio Ducel de Diamantes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Nuossa...isso me faz lembrar que há muito eu tenho guardado uma listinha de bandas novas que eu preciso baixar e ouvir! Aquela banda que toca uma música com o nome do bowie, por exemplo...
Ah, e tem aquela que mistura sons clássicos e tem um monte de gente na banda, sabe?
Mas pensando bem, vou deixar pra outro dia. Vou ouvir o Selling England mais uma vez...

ps: Crespo, eu tb assisti esse programa. Só serviu pra eu pensar em duas coisas:
1-como esse cara do cachorro grande canta PESSIMAMENTE mal.
2- Nós fariamos melhor.

abraços

Anônimo disse...

Aeeee Isa!!! mandou muito bem!!!! Com certeza tirou muitas palavras da minha boca...
E realmente é uma pena ver que chegamos ao ponto final.. Afinal... o que é a música hoje em dia? Funk do morro? (pq tinham que botar a palavra "funk" nisso?) Black music? (pra mim black music de verdade era o velho blues de Lousiana) Pop? (o que é o pop hoje em dia? Nada mais passa daquelas batidas chatas! Até a Shakira entrou nessa junto com a Beyonce!!) E o rock?
Ah! uma bela piada! Citaram Strokes aqui em cima.. Pô.. essa era uma bela banda.. Mas hoje em dia eles já fizeram projetos solo e nem sabem se voltam ou não.. Fora o som deles que começou na garagem e os empresários do mainstream os corromperam totalmente...
É bicho... Num tem muio o que fazer.. Eu que tenho banda me contento em tocar o que ainda gosto e o que sempre vou gostar...
E no resto do tempo? Vou continuar ouvindo Ramones e Ac/Dc!!

é nóis!